domingo, 24 de julho de 2011

Fogo ardente

 O fogo crepitava alto e as chamas dançavam uma dança bonita de se ver. Olhou em volta e nada viu. Apenas os mesmos tapetes velhos e trapeiros cobrindo o chão de madeira escura. Os mesmos móveis forrados com um tecido malcheiroso e vagabundo para esconder as queimaduras de cigarro deixadas pelo tempo. A mesma peça de cerâmica indígena uma vez dada por um velho amigo há anos e mais anos. Sempre a odiara, mas nunca houvera tido a coragem de se desfazer da mesma. Tudo continuava o mesmo; e por que haveria de mudar, afinal?
 Levantou-se do tapete onde estava comodamente sentado em frente ao fogo ardente, caminhou de dois a três passos até a estante mais próxima. Com duas mãos suadas e medrosas, agarrou o vaso de cerâmica: havia uma ave desenhada. Quebrou suas asas, suas patas, arrancou-lhe suas penas. E no instante seguinte: tudo mudara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário