sábado, 3 de janeiro de 2015

Sobre penas e asas



    Ela sonhava em ser livre. Voar longe; voar alto. Mas disseram-lhe que para ser livre, primeiro precisava conhecer a prisão. E cortaram-lhe as asas, ensinaram-lhe a andar ao invés de voar. E assim percorreu quilômetros. Sempre presa; sem asas; sequer penas. Não possuía penas, mas pena. Os olhos tristes, as pernas cansadas. Cortaram-lhe as asas: disseram-lhe que para ser livre, primeiro precisava conhecer a prisão. E talvez tivessem razão. Mas talvez fosse um erro negarem-lhe suas asas, suas penas. Pena.

terça-feira, 26 de março de 2013

Viver a amar você

  Percebi que eu ficaria bem sem você. Talvez demorasse alguns dias, semanas, poderia levar meses. No começo provavelmente seria um imenso tormento me acostumar com as noites frias sem seu corpo junto ao meu. Seria duro, não minto. Porém em algum momento as imagens tão impetuosamente prensadas em minha mente virariam somente lembranças, memórias largadas num canto qualquer de minha cabeça. E eu superaria. Haveriam cicatrizes, marcas deixadas pela guerra, por tudo o que eu lutara para ficarmos juntos. Mas eu ficaria bem... ah, ficaria! No entanto, jamais quis ficar sem você. Detesto essas saudades, essa vontade de estar ao seu lado, ouvir sua voz, sentir seu abraço.
  Então, meu amor, saiba que eu nunca... nunca, amor, deixaria de viver por não poder amar você. Mas me deixe amá-lo. Me deixe ser sua. Me deixe estar com você... Me deixe ser feliz ao seu lado e fazê-lo, também, tão feliz junto ao meu.

domingo, 18 de novembro de 2012

Talo de alma


  Num amontoado de gente há sempre alguns tipos de pessoas. Há pessoas preocupadas. Pessoas tristes. Há pessoas encimesmadas em suas próprias mágoas. Algumas poucas, felizes. E enquanto viva de corpo, havia eu. De uma tristeza tão profunda que nem mesmo cavando minha alma ao talo, poderiam encontrar.
  Tristeza causada pelo o quê, afinal? Por desejos mundanos nunca satisfeitos? Por céus eternamente nublados de dias mal vividos? Futilidades tão aquém de um ser humano inteiro em sua sobriedade. E um dia talvez, um dia de sol, eu tivesse sido inteira. Ou nascera com essa enfermidade: nascera pela metade. 

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Eventualidades

 Eu observava os ponteiros do relógio tiquetaquearem incessantemente. Era cansativo. Mas de uma forma ou outra, eles nunca parariam de tiquetaquear. Eventualmente, talvez, quando a bateria, ou pilha, ou o que quer que seja que desse vida àquele relógio de plástico vagabundo comprado por um preço razoavelmente justo em uma loja de uma esquina qualquer acabasse, aí sim ele pararia de tiquetaquear. Ah, eu adorava aquele relógio vagabundo. Não por sua estética - pessoalmente, eu achava ele horroroso -. Adorava aquele relógio simplesmente porque ele nunca houvera parado de tiquetaquear. Não houvera um único instante de silêncio desde que o comprara. E de uma maneira peculiar, era aquele relógio de plástico vagabundo que me fazia levantar todas as manhãs. Não por ser irritantemente barulhento. Mas por nunca parar de tiquetaquear. Tic-tac. Tic-tac. Tic.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Não é saudade, não. É uma certa... nostalgia. Sim, nostalgia.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Súplica

 Talvez eu não devesse perguntar isso. E talvez eu me arrependa de fazer essa pergunta. Talvez eu não goste da resposta, mas sinceramente, eu não poderia ligar menos para tantos "talvezes". O único talvez que me incomoda é o seu. Esse gigantesco "talvez" entre nós dois. Esse talvez sim. E também o talvez não... Então faça um favor. Faça um favor para mim, para você e para todos esses "talvezes" sem fim. Me diz: Você gosta? Você gosta de mim? Sim? Então, eu suplico. Suplico, por favor, deixe de lado todo o medo, toda a dúvida. Deixe de lado as inseguranças, meu amor.
 Deixe de lado esses "talvezes".
 Deixe de lado.
 Deixe.
 Deixe ser.
 Seja meu.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Primaveras

 Creio que demorei muitos outonos para perceber que sou livre. Tudo que me prende é passageiro, criação minha. Tudo que me prende é transitório, insólito, fina linha. Eu sou as folhas de outono: livre para cair, livre para nascer. Eu sou livre, livre folha, livre flor.