sexta-feira, 5 de agosto de 2011

História largada

 Ele estava sentado numa cadeira no canto mais distante do balcão daquele bar sujo e mal cheiroso. Que de tantas idas e vindas, guardava cada pedaço de história que largavam ali. Esquecido pelo dia e adotado pela noite.
 Observava-o de longe, com certa cautela, enquanto o homem pedia mais uma dose de qualquer coisa que estivesse tomando. Os cabelos desalinhados como quem acaba de acordar. O rosto tão jovem e já tão judiado pela vida. Estávamos sozinhos no bar. Sem gargalhadas ao fundo, sem passos agitados. Sem entradas e saídas, e mais algumas portas batidas. Somente nós dois, e o som que um copo costuma fazer quando encontra uma mesa. E então, num repente de infinito, meu olhar encontrou o dele, e n'outro pedaço do repente, eu sorri um sorriso sem tristeza, sem mágoa, sem dor. Só olhares e sorrisos, um pouco perdidos, prestes a serem achados por aquele pedacinho de infinito que havia de virar mais uma história largada naquele bar sujo e mal cheiroso, que de tantas idas e vindas, fora esquecido pelo dia e abraçado pela noite.

Um comentário:

  1. Sabe o que eu procuro? Alguém para trocar esse olhar. E o máximo que eu encontro são pessoas agradáveis, que me forçam a sorrir de volta, sem me despertar.

    ResponderExcluir